Seminário organizado pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados teve a participação de cientistas da Rede Clima e INCT para Mudanças Climáticas

A temperatura média observada no nordeste brasileiro já subiu cerca de 2°C e o nível de precipitação caiu aproximadamente 30% em relação ao período de 1981-2010, o que pode contribuir para que algumas áreas semiáridas se transformem em áridas, inviabilizando o sustento de populações que vivem na região. Em Cuiabá (MT), simulações do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) apontam para um aumento de 5°C a 6°C em cenário de altas emissões de CO2, afetando grande parte da produção agrícola brasileira. Pelo menos nove cidades litorâneas brasileiras apresentam áreas de alto risco devido à elevação do nível do mar. Estes e outros impactos das mudanças climáticas já verificados e/ou projetados para o Brasil foram apresentados por pesquisadores vinculados à Rede Clima e Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) para Mudanças Climáticas, em seminário promovido pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados no dia 5 de junho.

Cidades brasileiras em risco pelo aumento do nível do mar (em vermelho, alto risco; em verde, risco intermediário; em amarelo, baixo risco) Fonte: UN-HABITAT – Global Urban Observatory, 2008

Com o tema “Medidas de Mitigação e Adaptação às Mudanças Climáticas”, o evento integrou a programação comemorativa do Dia Mundial do Meio Ambiente do Congresso Nacional e teve a coordenação do deputado Rodrigo Agostinho, presidente da Comissão. “As políticas públicas são consolidadas em projetos de lei que são discutidos e votados pelo Congresso Nacional. Então, na área climática, é essencial que a Câmara e o Senado ouçam a comunidade científica, afirmou. “Tivemos no seminário seis dos mais renomados pesquisadores da área de mudanças climáticas do país e fico muito feliz de ter podido contar com a contribuição deles para nortear as nossas estratégias e políticas. Essa interlocução é importantíssima”.

“O Brasil já está sendo extremamente afetado pelas mudanças do clima, considerando a sua forte dependência econômica dos recursos naturais”, alertou a pesquisadora Mercedes Bustamante (UnB), responsável pela organização das apresentações. “Essa questão deveria estar recebendo uma atenção muito maior do verificamos atualmente. O tema vem sendo tratado como algo secundário. Nós, como pesquisadores, precisamos recolocar nesse diálogo as implicações de se adiar ainda mais as ações relativas ao combate à mudança do clima e as ações de adaptação. Este é um debate central para o país”.

Impactos na produção de alimentos em um planeta 3°C mais quente (os tons de vermelho representam queda na produção, sendo o tom mais escuro, -50%; o tom intermediário, -20%; e o tom mais claro, menos de 20% de perda; os tons de verde representam aumento na produção) Fonte: World Economic Forum: Global Risks 2016

Participaram das apresentações Paulo Artaxo (IF/USP) (Aspectos Científicos das Mudanças Climáticas Globais); José Marengo (Cemaden) (Desastres Naturais, Vulnerabilidade e Adaptação no Brasil; Roberto Schaeffer (UFRJ) (Opções de Mitigação no Brasil); Alisson Barbieri (UFMG) (Mudanças Climáticas e Cidades), Beatriz Oliveira (Fiocruz) (Mudanças Climáticas e Saúde Humana) e Mercedes Bustamante (UnB) (Usos da Terra no Brasil – Desafios e Oportunidades de Adaptação às Mudanças Climáticas.

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A Rede Clima e o INCT para Mudanças Climáticas distribuíram aos presentes materiais impressos apresentando os principais impactos que a mudança do clima já está causando em diversas áreas.

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Veja alguns dos principais alertas feitos pelos cientistas da Rede Clima e INCT para Mudanças Climáticas

– Elevação do nível do mar devido ao aumento da temperatura dos oceanos, colocando em risco as populações que vivem em zonas costeiras.

– Elevação da temperatura acima de 2°C e redução de 30% do nível de chuvas no nordeste brasileiro.

– Simulações apontando aumentos de até 5°C a 6°C em Cuiabá (MT), em cenário de altas emissões de CO2.

– Aumento do número de desastres naturais, devido à intensificação de eventos climáticos extremos.

– Nas zonas costeiras, ressacas mais intensas devido a tempestades mais intensas, num clima mais quente.

– Maior prevalência de doenças cardiovasculares e respiratórias, altamente sensíveis a aumentos de temperatura.

– Aumento da probabilidade de ocorrência de dengue e outras doenças transmitidas por vetores, além daquelas de veiculação hídrica, em regiões vulneráveis e com maior aumento de temperatura.